DESIGUALDADE SOCIAL NÃO É MERITOCRACIA
(mérito + -cracia)
substantivo feminino
1. [<dominio_ext_pb>Sociologia] Forma de liderança que se baseia no mérito, nas capacidades e nas realizações alcançadas, em detrimento da posição social.
2. Sistema social onde se pratica esse tipo de liderança.
3. Grupo de líderes pertencentes a esse sistema.
“meritocracia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, PRIBERAM [consultado em 19-11-2013].
substantivo feminino
1. Falta de igualdade.
2. Diferença.
3. Irregularidade.
4. Inconstância; variabilidade.
5. Aspereza, escabrosidade.
6. Desproporção.
7. Inferioridade.
8. [<dominio_ext_pb>Matemática] Expressão composta de dois membros, de diferente valor e separados pelo sinal > (maior que) ou < (menor que).
“desigualdade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, PRIBERAM [consultado em 19-11-2013].
Faz pouco sentido usar a palavra “meritocracia” desta maneira. A meritocracia é formal, não apresenta conteúdo definido. De acordo com um determinado sistema de avaliação, X é um mérito e Y é um demérito, enquanto por outro sistema de avaliação, Y é mérito e Y é demérito. Meritocracia, em outras palavras, é legítima como método. O truque retórico dos reacionários consiste na absolutização do que é relativo, fazendo de um método de seleção uma lei da natureza.
Os reacionários parecem supôr que vivemos numa sociedade onde todos tem o mesmo “ponto de partida”, ou “igualdade de oportunidades”, o que não ocorre. Ninguém escolhe o sexo ou família ao nascer. Nascer homem ou mulher, numa família rica ou pobre, letrada ou analfabeta, em área urbana ou rural, etnicamente privilegiada ou discriminada, etc, tudo isso é questão de sorte. Uma sorte que vai determinar oportunidades e papeis sociais. Onde está a meritocracia aí?
O grande mito é exatamente achar que existe uma separação entre oportunidades e resultados. A distribuição dos resultados hoje, na verdade, tende a reproduzir a distribuição das oportunidades ontem. Quando isso ocorre, não há “meritocracia” em nível societal. Há desigualdades sociais.
Sabemos o que há, no final das contas, por trás desse discurso da meritocracia: o chamado “Darwinismo Social”, a ideia de que a sociedade é regida por uma lei natural que leva à vitória dos mais aptos (biológica ou moralmente), o que explicaria as desigualdades sociais e desaconselharia uma política de redistribuição de riquezas e assistência aos mais necessitados. Ao invés disso, seria aconselhada a política de “livre mercado”. Justiça? Só se for retributiva (penal).
Essas crenças podem ser projetadas tanto para a desigualdade entre classes, etnias e gêneros, no interior dos países, quanto na desigualdade entre países. Por mais que alguns dos defensores dessa ideologia tentem se defender, dizendo que a “livre competição” leva ao sucesso dos “melhores indivíduos”, é lógico que a crença na “vitória dos mais aptos” tem como conclusão considerar que os “vencedores” são grupos de indivíduos intrinsecamente superiores aos que não tiveram a mesma sorte.
Machado de Assis satirizou esse tipo de discurso em seu romance Quincas Borba, com a frase “ao vencedor, as batatas” (leiam!). De fato, essa ideologia, levada às suas consequências lógicas, levaria à crença na existência de “raças” naturalmente desiguais, uma destinada a comandar, outra à escravidão.
Fonte: Desmentindo Reacionários
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