A expressão Síndrome do Vira-Lata (ou Complexo de Vira-Lata) foi cunhada pelo escritor Nelson Rodrigues nos anos 1950, após o Brasil perder para o Uruguai na final da Copa do Mundo no Maracanã.
Dizia o escritor que tal sentimento de ser o vira-lata do mundo não se dava apenas no esporte, mas em várias outras áreas.
“O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima”,
Afirmava Nelson Rodrigues.
A síndrome surgiu com ajuda dos países europeus e norte-americanos, dedicados a espalhar que a capital do Brasil é Buenos Aires e que falamos espanhol.
Em 1845, o Conde de Gobineu chegou ao Rio dizendo que os cariocas eram
“verdadeiros macacos”.
Em pleno século 20, a culpa de nossa inferioridade era nossa miscigenação, como pensavam gente como Nina Rodrigues, Oliveira Viana e até Monteiro Lobato.
“O Brasil, filho de pais inferiores – destituídos desses caracteres fortíssimos que imprimem – um cunho inconfundível em certos indivíduos, como acontece com o alemão, com o inglês, cresceu tristemente – dando como resultado um tipo imprestável, incapaz de continuar a se desenvolver sem o concurso vivificador do sangue de alguma raça original”.
Disse Monteiro Lobato em 1903.
Depois, a culpa de nossa inferioridade era o calor tropical, as questões sanitárias, os escândalos de corrupção etc.
Ajuda o fato de o Brasil ser o criador da máquina de escrever, do avião e de
biocombustíveis mas poucos saberem disso. Também nunca ganhamos um Prêmio Nobel, enquanto os vizinhos já levaram pelo menos no campo da literatura. No cinema, o sonho popular de ganhar o Oscar tampouco aconteceu ainda.
Mas será que o crescimento econômico, a Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016 e outros elementos que colocam hoje o Brasil em evidência no mundo nos curaram de tal síndrome?
Infelizmente, a resposta é não.
E parte da culpa está nos velhos hábitos da mídia nacional, que propagam e mantêm a síndrome de ponta a ponta do país.
Tomemos a TV Globo como exemplo.
Não existe emissora mais patriota do que a de Roberto Marinho. Praticamente todo jornalístico da TV Globo encerra com matérias exaltando nossa rica cultura,nosso talento para o futebol e a força do brasileiro.
Positivo?
Não.
Segundo o ensaísta Humberto Mariotti, trata-se apenas de uma reação contrária, supervalorizando a cultura nacional.
Em partes da sociedade de alguns países, como Cuba e Irã, tal reação contrária atinge níveis mais dramáticos, de rejeição do que vem de fora e encapsulando em si própria a cultura.
Trata-se de um patriotismo falso da TV Globo – e de vários outros grupos midiáticos – porque, se de um lado exaltam o Brasil, por outro reforçam a Síndrome do Vira-Lata.
Como?
Primeiro:
Tomando como fonte sempre os mesmos líderes mundiais, geralmente da Alemanha, EUA, França e Inglaterra, dando credibilidade de palavra final a líderes de países que, economicamente hoje, não andam lá muito fortes, mas preservam o poder graças à mídia.
Segundo:
Exaltando, em jornalísticos e programas de ficção, o “chique” que vem lá de cima, com reportagens repetitivas e constrangedoras da chegada da neve em Nova York, com protagonistas de novela iniciando a trama em Paris ou Londres, com personagens se dando bem por casarem com norte-americanos etc.
Terceiro:
Dando pouco espaço para a cultura nacional. Neste ponto, a TV Globo é a menos problemática, pois, bem ou mal, produz (e emprega) muito conteúdo nacional em novelas e minisséries.
Mas emissoras como o SBT vivem de exibir enlatados dos EUA e do México. Sem falar que todas elas dão espaço mínimo (quando não inexistente) ao cinema nacional.
Quarto:
Empregando estrangeirismos para dar o ar “sofisticado” a um evento (São Paulo Fashion Week), programa de TV (Big Brother Brasil), jornalísticos (Globo News) e até infantis (TV Kids).
Com a ajudinha da mídia, o resultado é devastador para o Brasil, da economia (nossos produtos são sempre piores que os importados), passando pela cultura (a superioridade de tudo que é falado em inglês ou que venha da Europa), desembocando na auto-estima, onde chegamos à Síndrome do Vira-Lata.
É dela que saem pérolas nacionais como “todo filme brasileiro é ruim ou baixaria”, “ele tem um carrão importado”, “a cultura tupiniquim” (no tom pejorativo do termo), “férias em Nova York? Que chique!” etc.
A boa notícia é que a Síndrome parece ter diminuído neste século 21, com o Brasil em evidência mundial.
Além disso, ela é um mau que assola chineses, indianos, africanos e muitos latino-americanos, e não apenas os brasileiros.
Por fim, os brasileiros, ao viajar mais para fora, estão se sentindo menos caipiras e mais parte do mundo, reconhecendo os problemas existentes do Canadá à Suécia.
Nosso complexo de vira latas midiático se evidencia quando a noticia é relativa á nossa diplomacia, a mídia detesta noticiar o sucesso da DILMA ao participar da fundação do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS) quebrando assim a hegemonia estados unidense e os maiores incentivadores de nosso complexo de vira latas, sem duvida são o Arnaldo Jabour e a Miriam Leitão.
Para esses dois qualquer tentativa diplomática da Dilma é um fracasso.
A mídia assume o papel de moldar as formas da sociedade, deliberando sobre padrões de beleza, comportamento, tendências a serem seguidas, pessoas a serem idolatradas, enfim, pode-se dizer que a mídia assume o papel de dizer e traçar nossas características culturais, mesmo que de forma fútil e inútil.
Não existe imagem neutra. Tudo que ela apresenta tem que chocar, tem que gerar impacto, vibração, emoção. Toda informação tem seu aspecto emocional:
Nisso é que reside a dramatização da opinião de seus comentaristas.
Não se trata de uma mera narração isenta, nossa mídia manipula negativamente nossa imagem, é um nacionalismo ás avessas, ou melhor:
É um anti-nacionalismo, um verdadeiro culto ao estrangeiro, principalmente aos
Estados Unidos.
Que a Síndrome do Vira-Lata diminua cada vez mais, para o bem econômico e cultural do Brás.
Fonte: Debate
Nenhum comentário:
Postar um comentário