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26 de julho de 2015

MERITOCRACIA - O QUE É?


DESIGUALDADE SOCIAL NÃO É MERITOCRACIA

me·ri·to·cra·ci·a

(mérito + -cracia)

substantivo feminino

1. [<dominio_ext_pb>Sociologia] Forma de liderança que se baseia no mérito, nas capacidades e nas realizações alcançadas, em detrimento da posição social.

2. Sistema social onde se pratica esse tipo de liderança.

3. Grupo de líderes pertencentes a esse sistema.

“meritocracia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, PRIBERAM [consultado em 19-11-2013].



De·si·gual·da·de
substantivo feminino

1. Falta de igualdade.

2. Diferença.

3. Irregularidade.

4. Inconstância; variabilidade.

5. Aspereza, escabrosidade.

6. Desproporção.

7. Inferioridade.

8. [<dominio_ext_pb>Matemática] Expressão composta de dois membros, de diferente valor e separados pelo sinal > (maior que) ou < (menor que).

“desigualdade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, PRIBERAM [consultado em 19-11-2013].


Os reacionários gostam muito de se declarar defensores da “meritocracia”. Esse vocábulo é muito utilizado para atacar políticas redistributivas ou compensatórias e justificar desigualdades econômicas.

Faz pouco sentido usar a palavra “meritocracia” desta maneira. A meritocracia é formal, não apresenta conteúdo definido. De acordo com um determinado sistema de avaliação, X é um mérito e Y é um demérito, enquanto por outro sistema de avaliação, Y é mérito e Y é demérito. Meritocracia, em outras palavras, é legítima como método. O truque retórico dos reacionários consiste na absolutização do que é relativo, fazendo de um método de seleção uma lei da natureza.

Os reacionários parecem supôr que vivemos numa sociedade onde todos tem o mesmo “ponto de partida”, ou “igualdade de oportunidades”, o que não ocorre. Ninguém escolhe o sexo ou família ao nascer. Nascer homem ou mulher, numa família rica ou pobre, letrada ou analfabeta, em área urbana ou rural, etnicamente privilegiada ou discriminada, etc, tudo isso é questão de sorte. Uma sorte que vai determinar oportunidades e papeis sociais. Onde está a meritocracia aí?

O grande mito é exatamente achar que existe uma separação entre oportunidades e resultados. A distribuição dos resultados hoje, na verdade, tende a reproduzir a distribuição das oportunidades ontem. Quando isso ocorre, não há “meritocracia” em nível societal. Há desigualdades sociais.

Sabemos o que há, no final das contas, por trás desse discurso da meritocracia: o chamado “Darwinismo Social”, a ideia de que a sociedade é regida por uma lei natural que leva à vitória dos mais aptos (biológica ou moralmente), o que explicaria as desigualdades sociais e desaconselharia uma política de redistribuição de riquezas e assistência aos mais necessitados. Ao invés disso, seria aconselhada a política de “livre mercado”. Justiça? Só se for retributiva (penal).

Essas crenças podem ser projetadas tanto para a desigualdade entre classes, etnias e gêneros, no interior dos países, quanto na desigualdade entre países. Por mais que alguns dos defensores dessa ideologia tentem se defender, dizendo que a “livre competição” leva ao sucesso dos “melhores indivíduos”, é lógico que a crença na “vitória dos mais aptos” tem como conclusão considerar que os “vencedores” são grupos de indivíduos intrinsecamente superiores aos que não tiveram a mesma sorte.

Machado de Assis satirizou esse tipo de discurso em seu romance Quincas Borba, com a frase “ao vencedor, as batatas” (leiam!). De fato, essa ideologia, levada às suas consequências lógicas, levaria à crença na existência de “raças” naturalmente desiguais, uma destinada a comandar, outra à escravidão.



Compreender a desigualdade objetiva enraizada nas estruturas sociais, pelo contrário, fundamenta a justiça redistributiva (socioeconômica), de modo a cada vez mais reduzir e compensar a desigualdade de oportunidades. O que não implica em rechaçar os métodos meritocráticos, p.ex., nos concursos públicos para selecionar os técnicos mais competentes para trabalhar em serviços universais, que, aliás, são um dos melhores instrumentos para redistribuição equitativa das riquezas.

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