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19 de julho de 2015

RELIGIÃO - E A NECESSIDADE METAFÍSICA DO HOMEM

PÁGINA 50, DO LIVRO 'AS DORES DO MUNDO' DE ARTHUR SCHOPENHAUER

Religião — e a necessidade metafísica do homem

Templos e igrejas, pagodes e mesquitas, em todos os tempos, pela sua magnificência e grandeza testemunham a necessidade metafísica do homem, que forte e indestrutível, segue passo a passo a necessidade física. Poder-se-ia, é certo, querendo empregar o tom satírico, acrescentar que a primeira necessidade é modesta e contenta-se com pouco. Fábulas grosseiras, contos para dormir em pé, é quanto lhe basta muitas vezes: se as imprimirem bastante cedo no espírito do homem, essas fábulas e essas lendas tornam-se as explicações suficientes da sua existência e os sustentáculos da sua moralidade. (...)

Não contente com os cuidados, as aflições e os embaraços que o mundo real lhe impõe, o espírito humano crê ainda um mundo imaginário sob a forma de mil superstições diversas. Estas ocupam-no de todas as maneiras; consagra-lhes o melhor do seu tempo e das suas forças, logo que o mundo real lhe conceda um repouso que não é capaz de gozar. Pode verificar-se esse fato na sua origem, entre os povos que, colocados sob um céu puro e num solo clemente, têm uma existência fácil, tais como os hindus, depois os gregos, os romanos, mais tarde os italianos, os espanhóis, etc. — O homem representa-se demônios, deuses e santos à sua imagem; exigem a todo o momento sacrifícios, orações, ornamentos, promessas feitas e realizadas, peregrinações, prosternações, quadros, adornos, etc. Ficção e realidade entremeiam-se ao seu serviço, e a ficção obscurece a realidade; qualquer acontecimento da vida é aceito como uma manifestação do seu poder. Os colóquios místicos com essas divindades preenchem metade dos dias, sustentam incessantemente a esperança; o encanto da ilusão torna-os muitas vezes mais interessantes que a convivência dos seres reais. Que expressão e que sintonia da miséria inata do homem, da urgente necessidade que ele tem de socorro e de assistência, de ocupação e de passatempo! E, embora perca forças úteis e instantes preciosos em súplicas e sacrifícios vãos em vez de se proteger a si mesmo, quando surgem perigos imprevistos, não cessa contudo de se ocupar e distrair nesse exercício fantástico com um mundo de espíritos com que sonha; é essa a vantagem das superstições, vantagem que não se deve desdenhar.
Trecho do episódio 3 de True Detective 
(primeira temporada)
 

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